quinta-feira, 2 de junho de 2011


 - Os outros eram a satisfação de meus caprichos e dos de Edgar também. Este outro diz respeito a uma pessoa que reúne em si tudo quanto eu sinto por Edgar e por mim mesma. Não posso exprimi-lo, mas decerto tu tens, como toda a gente, uma vaga idéia de que há, de que deve haver fora de nós uma vida que é ainda nossa. De que serviria ter eu vindo ao mundo se me confinasse no que aqui está? Minhas grandes infelicidades neste mundo têm sido as infelicidades de Heathcliff. Aguardei-as e senti-as todas desde sua origem. É ele a minha grande razão de viver. Se tudo perecesse, mas ele ficasse, eu continuaria a existir . E, se tudo permanecesse e ele fosse aniquilado, o mundo inteiro se tornaria para mim uma coisa totalmente estranha. Eu não seria mais parte desse mundo. Meu amor por Linton é como a folhagem dos bosques: o tempo o transformará, estou bem  certa, como o inverno muda as árvores. Meu amor por Heathcliff assemelha-se aos rochedos imotos que jazem por baixo do solo: fonte de alegria pouco aparente mas necessária. Nelly, eu sou Heathcliff! Ele está sempre, sempre, em meu pensamento. Não como um prazer, visto como nem sempre sou um prazer pra mim mesma, mas com meu próprio ser. Por isso não fales novamente de nossa separação. É impraticável.

(O Morro dos Ventos Uivantes) 


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